A proximidade dos dois era cada vez mais intensa.
Urgiam-se; as horas eram vividas como se nada mais pudesse existir passada a porta do apartamento dela ou dele; era como uma tempestade circunscrita naqueles metros quadrados, onde nenhum espaço era verdadeiramente suficiente.
Dividiam igualmente experiências de ambos os ambientes de trabalho; ele discorria os encontros de assessoria com empresários e autoridades, falava das coisas que tinha de engendrar no processo de construção de imagem e mesmo os pronunciamentos e discursos que tinha de escrever para aqueles nos quais, intimamente, sequer acreditava; ela dividia com ele as ideias e projetos que chegavam ao escritório; divertiam-se com as bizarrices que encontravam na jornada de trabalho e se admiravam das coisas interessantes que igualmente apareciam;
Mas sempre no meio de tudo o que discutiam a história das cartas e das fotos aparecia como que um lembrete de que aquele passado, que pouco a pouco se deixava descerrar, estava ali, ao alcance, como que a chamar para ser ainda mais deslindado; conversavam do assunto entre uma coisa e outra, como que a deixá-lo de lado, mas quase sempre ele voltava à baila; as fotos e os cartões postais ainda eram um mistério, pedindo para ser decifrado.
O mais importante assunto, porém, era o que planejavam enquanto abraçavam-se, antes de levantar para o desjejum; não tinham pressa; o sábado prometia ser de sol, mas não tinham sequer vontade de sair; o que mais os ansiava no momento era a possibilidade de fazer a primeira viagem juntos; ele entraria de férias no mês seguinte, ela poderia deixar o escritório sob a responsabilidade de Eunice até que retornasse de viagem; os principais projetos já estavam engatilhados e nada mais havia de importante na agenda; poderia dedicar o tempo inteiro para planejar todos os detalhes.
Pensaram em vários destinos, mas logo convergiram para uma viagem europeia; uma agência oferecia um giro de duas semanas pelas principais capitais, outra um passeio mais longo, mas de menor permanência em cada lugar; era uma decisão difícil, mas ambos queriam chegar a um plano de viagem que fosse muito bom para os dois;
Até que se lembraram dos cartões postais, que estavam com as fotos que tinham visto por último; por mais que tivessem praticamente um século de idade, poderiam ser uma interessante referência para saber por onde deveriam começar.
Os dois arrumaram cuidadosamente a pilha de fotos e cartões; a maior parte era de passeios de família e os postais mostravam paisagens como Paris, Roma e Madri, mas uma foto chamou a atenção dos dois; era simples, mostrando uma casa que ela reconheceu como sendo do tipo vitoriano tardio, com mansardas no telhado e aspecto rebuscado; virou a foto e no verso estava escrito “Charlton House, Sussex, Aug, 12, 1911”; os dois entreolharam-se e não disseram nada e nem precisariam; podiam mesmo ler o pensamento do outro...
Demora pra sair a continuação? Vê se não judia, viu? A gente não merece...rs...<3
ResponderExcluirMagistral!Que venha o próximo
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