sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

O General, o Artista e o Jovem Erudito

Platô de Gizeh, Egito, 1798


A fumaça se dissipara. Os velhos templos, que haviam testemunhado tantas batalhas, testemunharam mais uma: naquelas areias, junto às pirâmides, jazia o orgulho egípcio, os tão engalanados mamelucos, senhores das artes eqüestres, a furusiyia, as velhas artes de batalha, com seus fogosos ginetes e suas reluzentes iatagãs. Caíram pela pólvora e pela baioneta, e, mais uma vez, os francos – al-faranj – são os senhores do deserto. Seu general, olhos frios e mente ao longe, inspeciona o campo de batalha.
O general mameluco, Murad Bei, custa a crer no que vê. Seus melhores homens, sua elite, morta e destroçada antes mesmo de travar combate. Os quadrados de batalha dos europeus vencem a coragem mameluca. “Francos Covardes”, pragueja, de si para si, antes de, consternado e derrotado, retirar-se. Morrerá na perseguição que lhe moverão os estrangeiros...
Ao lado do jovem general corso, que logo vai inscrever seu nome na história, um homem franzino toma notas e desenha. Seus olhos apurados vêem o que, ao néscio, passará despercebido. Seus olhos não deixam escapar o menor detalhe, mesmo diante da fuzilaria da batalha e do clangor do aço. Velhas efígies de antigos deuses, velhas colunas, mudos vigilantes dos séculos, nada é fugidio de sua pena e de seu olhar agudo e incisivo.
Quanto aos demais, resta a paz dos cemitérios. Outras batalhas se travarão, outros registrarão feitos; mas as inexoráveis areias removerão marcos, pegadas e trilhas...
O general corso guindar-se-á à história; o artista trará à luz uma civilização que, para muitos, sempre pareceu lendária, ou mesmo fantasiosa; e é a um jovem erudito que caberá fazê-la falar, contar sua epopéia...

Mas isso será outra história...