quinta-feira, 18 de outubro de 2012

TEMPO, TEMPO, TEMPO, TEMPO...

Abriu os olhos despretensiosamente, sem pressa, pois sabia que era fim-de-semana. Uma nova rotina, pensou ela, sem ainda sequer mexer o corpo, somente pensamentos girando. Lembrou-se de hábitos de antanho, como levantar-se antes de todos, fazer o café da manhã do marido e dos filhos, tomar banho, arrumar-se, estar pronta para o trabalho. Era, porém, um outro tempo; os filhos, já seguindo suas vidas, eram presença esporádica; a mais velha fazendo doutorado no estrangeiro, o do meio em intercâmbio na Amazônia, a mais jovem enfrentando os primeiros anos de universidade, morando com as amigas em outro estado. O marido ainda dormia, embalado no sono reparador após uma semana puxada de trabalho. Olhou para ele, a expressão serena, os cabelos entremeados de grisalho,as mãos abraçando o travesseiro. O que se passava em seus pensamentos? Antes gabava-se de conhecer e antecipar cada passo dele, no afã de fazê-lo feliz; lembrou-se da emoção adolescente de quando o conheceu,a perguntar “por que eu?”,pois se achava o patinho feio, que ninguém olharia duas vezes; lembrou-se do primeiro convite, a caminhada pela Paulista, cinema e a promessa de que se veriam de novo, que, de início, não acreditou; mas veio o namoro firme, o noivado e o casamento; a construção de uma vida, os filhos, cada etapa da vida de cada um, como indeléveis memórias… Levantou-se devagar, olhou-se no grande espelho do toucador, um presente surpresa dele, comprado em uma loja de antiguidades; se sentiu estranha, diferente, diante do móvel antigo. De repente, pareceu a ela que ela poderia ter a mesma idade do móvel, pensamento que afastou; olhou novamente para ele, ainda deitado de bruços, a abraçar o travesseiro. Pareceu a ela que ele sorria levemente, como se passasse por um sonho bom. Sonhos! Como eles sonharam, e viveram sempre a realizar, tanto quanto possível, os sonhos que tinham; viveram de tudo, de felicidade a crises, de arranca-rabos a apaziguamento; mas sempre puseram, acima de tudo, o grande amor que sentiam. Ela se olhou mais uma vez no espelho. Deu uma volta, depois outra, a pele contrastando com a camisola negra, as alças realçando os ombros bem torneados; olhou-se de cima a baixo, chegando ao rosto. Atentou-se a cada parte, a cada vinco; de repente, viu-se um livro de histórias, cada uma parte vivência; sentiu como se o peso de toda uma vida fosse desabar… Mas, de repente, sentiu o toque arrebatador, diferente até; quis dizer algo, mas foi calada pelo beijo mais intenso que já havia sentido na vida; todas as reações que sequer quisesse ter foram detidas pelo abraço vívido, mãos que deslizavam incessantes, sem pejo ou barreira. Ela não o reconheceu; se viu então deixando levar pela voragem, pela vontade, deixando de ser pessoa para ser mulher; parecia suspensa no ar, o tempo deixando de existir, o espaço deixando de ser, a vontade e a paixão maiores que tudo; pela primeira vez, nada havia que os impedisse; então, ela gritou, a mulher dentro dela explodiu em unissono… Ele a pousou suavemente na cama, os olhos ao mesmo tempo fulgurantes e ternos, que a fitavam como um tesouro raro. Ela aconchegou-se nele, e as mãos se entrelaçaram, em entrega e amor…Ele, então, pôs entre eles um caixa com uma rosa de um vermelho vivo, e, quando a abriu, descobriu um colar onde, como pingente, dois rostos que se encaixavam à perfeição, como se sorrissem um para o outro. Ele ajudou-a a colocar, enquanto sussurrava em seu ouvido: “feliz aniversário…” Ela o beijou terna, mas intensamente; se sentiu mais consigo mesma, mais amada, mais mulher; em seus pensamentos ela simplesmente dizia; “meus cinquenta anos são a descoberta do mais raro dos tesouros” Thomé Madeira

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Um novo feudalismo

Finalmente, depois de um longo exilio, retorno pra escrever nessa tão abandonada página,onde fazia tempo que palavras novas não habitavam; dessa vez quero ver se não falho com quem visita e não encontra nada novo... Dizem que o historiador tem a vantagem de ter o passado commo aliado, não como inimigo; é nesse prisma que parei pra fazer uma comparação entre a atual cultura de condomínio, tão comum em nossas grandes cidades, com um período da história que, apesar da distância, tem muito em comum com essa cultura: o feudalismo. As partes em comum são mais do que podemos sequer imaginar... Roma, depois de invasões, usurpações e altos e baixos, cai, pelo menos sua parte Ocidental. Os frangalhos do império começam a originar pequenos reinos e frações de dominio que logo se tornaram os tão conhecidos feudos, autossuficientes e politicamente voltados pra si, em conflito com outros feudos, emsmo dentro de si proprios. A terra se divide e igualmente se divide o ttrabalho, as responsabilidades; cabe ao senhor governar, distribuir tarefas, estabelecer relações de paz ou guerra, de vassalgem e suserania, que regularão, por mais de mil anos, todo esse universo. A insegurança e o medo dominam. a busca por segurança e proteção se intensifica, e começam a surgir fortalezas, que, aleém de representarem o poder do senhor, são elemento de proteção dele e dos servos ligados a ele. O mesmo recruta todo um corpo profissional , seja administrativo , seja militar(dependendo do poder e da riqueza de cada senhor), criando regras próprias e mesmo chegando a cunhar moeda. Então, quais as partes em comum com o que vivemos hoje? Muitas. Vejamos a verticalização cada vez maior das cidades, com suas torres fortemente demarcadas e com rígidos sistemas de segurança (no castelo feudal, o prédio principal era exatamente a torre de menagem , refúgio do senhor e de seu séquito). Se nos estendermos mais,veremos que um prdio de apartamewntos nada mais é do que um manso senhorial em si mesmo, apenas fracionado em unidade smenores, com toda uma particular cadeia de regras e procedimentos, que dependerão do sindico que administrar. Não reconhece nada? Ponto pra você se reconheceu... Mas a consequência mais danosa desse encastelamento é que nos tornamos, sem perceber, com um baixissimo indice de sociabilidade, a ponto de não entabularmos o mais simoles contato mesmo ao nos encontrarmos no elevador; vemo-nos como estranhos na mesma masmorra, sem identidade, apenas componentes de uma máquina de morar, sem a identidade , sem a personalidade que um lar deveria ter...Nos tornamos como os servos temerosos de reides e ataques de hordas saqueadoras, nos arrastões que tanto lembram os ataques dos piratas vikings aos vilarejos ingleses e franceses da costa do canal da Mancha e tantos outros...então, mais encastelamento, mais medo, mais insegurança, e acabamos em um quase obscurantismo..Pensem bem e comparem quanta coisa em comum..Reflitam e tirem suas conclusões