sexta-feira, 12 de março de 2010

Um conto - Um Encontro

"O sertão estava diferente, de meio-vento, com um quê de dessemelhança; parecia que tudo estava assentado estranho, nem mesmo o rio parecia remolhar o seu correr de sempre; tinha coisa estranha ali...Foi aí que me atinei do cheiro, coisa de carniça velha, de couro mal curtido, de gente apodrecida no valer dos caminhos; a noite parecia como que do avesso; me esgueirei pelo capoeiral, me acheguei da lambedeira e peguei no punho com força; fui na direção do cheiro e, de repente, dei com Mariana, apoiada numa gameleira, olhos que pareciam vermelhos, esbrazeados; só então me pus reparo dela nua, ancas cheias, pernas tesas, e, por trás dela, outros olhos de fogo, mãos que pareciam de brasa, que se assenhoreavam dela sem nem mesmo ela gritar...encarei os olhos de fogo e parti pra cima, lambedeira mirando a garganta. Senti o tranco do safanão me jogar longe, e uma voz que parecia do fundo da catacumba me desafiou.
- quem é tu pra me fazer frente, desinfeliz ? tu sabe quem sou eu?
- Como sei, e se prepare seu coisa ruim que eu tenho faca de ticum!!!

Me engalfinhei com ele, de força maior que touro brabo; mas não tinha medo, tinha o amor de Mariana por força, faca de ticum na mão; de repente, ganhei força que não era minha, peitei aquele coisa-ruim e passei o ticum no bucho do peste, que se arregalou com se tivesse visto coisa mais forte que ele, e se desmanchou no escuro; tomei Mariana no braço, mas não antes de enfiar o ticum na terra, onde o cramulhão se desmanchara. "Fio da desgraça , tu vai gritar até o fundo da terra, mas Mariana tu não toma"...

Assim se falou pelas veredas do sertão...