NO VAPOR AMETHYST, PRÓXIMO À BAHIA DE HONG KONG, 1895
A agitação crescera, depois da longa viagem, e era necessária alguma distração. Ela surgiu num incidente corriqueiro, quando um major do regimento de Lanceiros de Bengala começou a provocar uma passageira indiana do vapor. Horace Lambert-Foyle detestava o serviço na Índia, mas tinha obrigações de família e dívidas a prendê-lo, pois era um jogador compulsivo, e a ruína da família fé-lo aceitar a oferta de servir nas colônias. Mas logo detestara a rotina militar os acantonamentos e, sobretudo, o calor escaldante
Um jovem oficial da marinha, de cabelo castanho e olhos azuis, se aproximou calmamente, e indagou o motivo daquela confusão toda. Lambert-Foyle o empurrou para o lado e retrucou
- Não se meta, janota de azul; esses assunto é meu!
O oficial o empurrou o pé direito na direção de Lambert-Foyle, e ele caiu no chão, todos no tombadilho a rir-se dele. Depois de fuzilar o jovem oficial com os olhos, disse a ele
- Esta é a hora e o lugar. Aqui, Agora
O jovem oficial imediatamente aceitou o desafio, mais para ver se dava uma lição em Lambert-Foyle. Ele era um bom esgrimista, e não precisou de muito tempo para desarmar o inglês, em três golpes fazendo o pulso dele sangrar...Lambert-Foyle se esforçou muito para fazer uma mesura, admitindo a derrota.
- Posso saber o seu nome, senhor? Perguntou entre dentes, ainda ruminando ódio
-James Shatov-Willingthorpe, oficial da Marinha Real, adido militar na China..
A menção do nome fez Lambert-Foyle quase gaguejar. Os Shatov-Willingthorpe eram uma lenda na Marinha Real, desde os tempos de Crommwell até o presente, com Lord Nigel Willingthorpe. Ele simplesmente estacou, deu um passo para trás e se retirou. Haveria tempo para o revide, pensou
O Amethyst atracou suavemente no ancoradouro da Baía das Pérolas, e os passageiros, calmamente uns, celeremente outros, desembarcaram no Porto de Vitória. James apanhou sua bagagem pessoal e entregou a um carregador malaio que estava a postos, já pressuroso a ajudar. Ele procurava um rosto entre os que estavam no porto, mas tal estava logo atrás dele.
- Meu amigo, há quanto tempo eu não o vejo!
- Sempre imprevisível , não é? Bom vê-lo, amigo.
Aquele encontro demorou uma geração para acontecer. De um lado, James Willingthorpe, neto de Nigel Willingthorpe, e, de outro, Kwai Sao Feng, neto de São Feng, grande amigo de Nigel, e que foi muito próximo dele há sessenta anos. Voltaram a se encontrar muito antes, quando, numa de suas viagens à África, o encontrara m Durban, onde o chinês dirigia um negócio de cultivo de chá e especiarias. Era o reencontro de gerações, mais que de amigos
- Me fale, amigo James, e seu pai e seu avô?
- Meu avô morreu há dez anos. Meu pai agora rege os negócios da família. Minha tia-avó está bem idosa, mas ainda regendo as coisas no Brasil.
- Honorável avô morreu há cinco anos, mas ainda é presença forte na lembrança de meu povo aqui. Mas vamos a minha casa, amigo James, e vamos descansar; depois me conte o que o traz aqui.
A comitiva de Riquixás, que levava passageiros e bagagens, seguiu adiante até a parte alta da cidade, onde ficava a casa de Kwai Sao Feng.. Lá, criados já esperavam na varanda, para pegar as bagagens e conduzir o hóspede a seus aposentos. Mais tarde, ele e Kwai Feng conversaram sobre a situação que se avizinhava.
- As coisas voltam ao estado de tempestade, amigo James. Depois do flagelo taiping, agora, isto...
Kwai falava da rebelião taiping, que há quarenta anos tinha devastado quase a China inteira, uma verdadeira ameaça ao poder imperial, que teve de ser sufocada por tropas mercenárias, comandadas por um inglês, Charles George Gordon, um antigo conhecido de seu pai e avô que ganhou o apelido de “Chinês”, nos círculos da imprensa britânica. Mas agora havia outro perigo, de dentro para fora. O novo imperador, Kwang-Hsu, era de espírito reformador, um modernista, mas enfrentava oposição dentro da própria corte, e entre as figuras-chaves estava a Imperatriz Cixi, a viúva do Imperador Hsi, que era violentamente nacionalista. Dizia-se que ela estaria por detrás do controle imperial, em verdade
- Novamente, então, o trono está ameaçado – falou, em tom preocupado.
- Isso, e também outra ameaça séria, a dos boxers
Ele se referia a uma organização secreta, que distribuía poemas malfeitos incitando à rebelião aberta contra os estrangeiros, que, segundo se dizia, era apoiada e financiada por certos setores da nobreza imperial, que queriam a expulsão dos estrangeiros da China. Eram chamados de boxers porque alguns de seus membros praticavam artes marciais, daí o nome. De início apenas um aborrecimento, eles passaram a chamar mais atenção quando começaram a atacar missões estrangeiras em território chinês, o que deixou as potências em alerta.
James se preocupou bastante com aquelas notícias. Sania que sua missão como adido seria difícil, mas não calculara o tamanho das dificuldades. Sabia do crescente movimento antiestrangeiro na China, mas sempre houve surtos, e não passaram disto. Mas desta vez as coisas eram mais sérias, e havia real risco de mais massacres. Tomou, então, sua decisão. Pediria uma audiência com o príncipe Tuan e o general Jung-Lu, comandante das forças armadas imperiais, para se inteirar da situação. Por ora , iria dormir um pouco. Teria muito que fazer até Sir Roger MacDonald, do corpo diplomático, chegar.
A manhã se apresentou bonita na saída de James até o Palácio Imperial. A audiência fora deferida e o príncipe Tuan iria recebê-lo às dez, juntamente com o general Jung-Lu. Ele entrou pelo portão dos Ventos Serenos até o patamar construído para as audiências. Ele estranhou não haver guardas imperiais presentes. Ele estacou no lugar reservado aos que pediam audiências, as não fez o kowtow – a reverência com a cabeça ao chão, como faziam os demais dignitários chineses ante ao Imperador.
- Então, comandante Willingthorpe, qual a razão da audiência? Não teremos a manhã inteira. – O príncipe Tuan, começou a conversa com um tom de contrariedade.
- Apenas quero o apoio de Vossa Excelência para conter essas manifestações – disse ele com firmeza- precisamos nos unir mutuamente para conter essa ameaça.
- Comandante, o senhor pode contar com meu apoio, mas não posso controlar muito a resistência de meu povo...O senhor sabe que os ânimos dos chineses se exaltam com dificuldade, nossa paciência é extremada – disse entre dentes o príncipe Tuan
- A paciência é uma virtude, Príncipe Tuan. Conto com o senhor.
- Já tem a minha resposta, Comandante. Agora pode ir.
James se dirigiu ao portão, mas já sabia e já tinha idéia do que viria. Os príncipes antiestrangeiros deixariam a torrente dos rebeldes correr, para, depois, assumir o comando. Ele se dirigiu ao riquixá quando de repente, uma turba o cercou, gritando palavras de ordem,; uma pedra atingiu seu ombro, enquanto a turba fechava o cerco. Mas ele foi salvo pela providencial ajuda dos homens de Kwai Feng , que o estavam seguindo desde então.
- Entre senhor, saia daí!!!
Ele rapidamente soltou dentro do veículo, que rapidamente voltou à parte alta, e James contou a Kwai Feng o que acontcera na audiência...
segunda-feira, 29 de outubro de 2007
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Olá...eu estava pesquisando algumas coisas no google e encontrei o seu Blog e comecei a ler A saga dos Shatov Willingthorpe ... e não consigui parar!
ResponderExcluirSeu Blog já está no meu favoritos!
Se publicar um livro pode ter ctz que ja tera uma leitora!
Meus Parabéns!