Caros Amigos
A Série que começarei a apresentar a vocês nasceu há vinte e
cinco anos, quando acidentalmente, numa loja de discos, vi um CD da trilha
sonora de um documentário chamado THE CIVIL WAR, sobre a Guerra Civil
Americana, produzido por Ken Burns, um dos mais completos sobre o tema; li o
prospecto de quase trinta páginas com uma avidez que me consumiu um dia
inteiro, e persegui durante dois anos a chance de ver esse documentário; ao
assisti-lo, me impressionou especialmente a riqueza iconográfica que ele
apresentava; depois, conheci a extensa
literatura e filmografia americana sobre o tema, jamais esgotada – desde “O
Emblema Rubro da Coragem”, de Stephen Crane, passando por “The Civil War- a
History”, escrito pelo brilhante jornalista Harry Hansen, até os filmes
“Gettysburg” e “Deuses e Generais”, magistralmente produzidos. Me impressionou sobremaneira a multiplicidade
de interpretações e teorias sobre a origem, a evolução e os desdobramentos da
guerra e de como ela transformou a sociedade americana. Me impressionou também
o imaginário produzido sobre esse momento da história.
Não pude deixar de me remeter à Guerra do Paraguai, que
começou exatamente no fim da Guerra Civil nos EUA; à parte as diferenças entre
os dois conflitos, me assaltava a pergunta: por que não se produziu, no Brasil,
o mesmo imaginário, o mesmo conjunto de questionamentos tão agigantados nessa
passagem da história sul-americana? Meu primeiro contato com alguma literatura
fora do âmbito escolar me foi dado por um dileto amigo, que me emprestou o
conhecido “Genocídio Americano – A Guerra do Paraguai” escrito por J.J.
Chiavenato, uma abordagem diversa do universo didático sobre a guerra; li-o, confesso,
com alguma reserva, por causa do endeusamento da figura de Solano Lopez,
ditador do Paraguai, colocado como um “paladino contra o imperialismo
britânico”; não satisfeito na minha busca por uma abordagem mais equilibrada,
finalmente encontrei-a no livro de Francisco Doratioto, “Maldita Guerra”, onde,
por detrás de extensa pesquisa documental e iconográfica, o autor nos mostra
uma visão mais equilibrada, mais científica e, em muitos aspectos, mais humana;
ainda assim, não via esse imaginário que eu buscava, o do homem comum, as
histórias da gente, dos embates, do que poderiam pensar homens que , durante
cinco anos , se enfrentaram nos esteiros, arroios e campos paraguaios; passei
pelas memórias de Dionísio Cerqueira, soldado e depois político e a obra
clássica “A Retirada da Laguna” de Taunay, até que, um dia, duas outras leituras
me deram o impulso final: o pequeno conto “A Caminho de Assunção”, de Rubem
Fonseca, e a “graphic novel” escrita por André Toral, “Adeus Chamigo
Brasileiro”; elas me deram o rumo que faltava para ir atrás e pensar as
narrativas que viriam das descobertas dessa passagem de nossa história...
Adoro saber sobre os percursos da criação, adorei o seu, vou agora ler o conto de estreia da série. Um grande abraço.
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